terça-feira, 2 de julho de 2013

Pátria amada, idolatrada, salve, salve!


Caminhava pelas ruas de Marechal no último dia 19, uma quarta-feira, distraído do entorno e refletindo sobre os protestos de rua no dia anterior, quando ouvi, por trás de mim, o canto do hino nacional. Voltei-me e vi que era mais um protesto de rua: umas nove ou dez crianças do orfanato Casa Lar Áurea Celeste, empunhando cartazes com reivindicações de melhor educação e saúde. Cantaram ainda “Cidade maravilhosa” e posaram para fotografias da acompanhante-animadora. Aproximei-me e sorri para aquelas crianças.

Na Copa das Confederações, jogo Brasil x Itália, todos viram torcedores e atletas cantarem o hino nacional, à capela, depois de encerrada a orquestração na primeira parte do hino. O fato se repetiu na final do Maracanã, contra a Espanha. Entusiasmo cívico nunca visto! Ou o despertar político da maioria silenciosa.

Bando de fascistas!

Calma, leitor amigo. Já, já, explico o parágrafo acima.

Nestes dias tumultuosos e incertos, quando não sabemos onde tudo isto vai dar, naveguei pela internet em busca de respostas, ou melhor, dei algumas braçadas mal sabendo nadar, a partir de links do facebook. Li um artigo de alguém que não lembro o nome, num blog que também não lembro*. A articulista falava do protesto do dia 17/06, em São Paulo. Era militante do MPL (Movimento Passe Livre) e alertava para coisas estranhas, muito estranhas , que observara naquela noite: grupos estranhos ao seu, em rumos diferentes do seu, com reivindicações as mais diversas, repúdio a partidos, com as caras pintadas e cantando o hino nacional. Em alguns casos, violência, vandalismo. A mocinha militante denunciava a infiltração de gente estranha, muito estranha, e a certa altura, tentando desqualificar os manifestantes “infiltrados”, disparou: isso de cara pintada e hino nacional é coisa de integralistas, de fascistas!

Calma, gente! Muita calma, mocinha!

Os integralistas cantavam o hino nacional, e faziam coisas ridículas como usar farda e marchar nas ruas e gritar anauê com o braço direito levantado. E metiam-se em brigas com outras correntes políticas (comunistas e socialistas), brigas estas muito comuns também na Europa. Eles pretendiam ser um movimento puramente nacionalista, mas copiaram dos europeus as brigas e arruaças. Mas não é porque os integralistas cantavam o hino nacional que quem o canta agora também o é. Saiba, mocinha, que os integralistas distribuíam bolsas de alimentos aos pobres; nem por isso posso atribuir ao Lula os adjetivos de integralista ou fascista. A vida e a política vão além da simplificação que os rótulos sugerem.
A mocinha, digo mocinha porque me pareceu ter as certezas absolutas e definitivas dos muito jovens; a mocinha, dizia eu, talvez prefira cantar o hino da Internacional Socialista. Eu não sou tão globalizado assim, nem tão nacionalista que possa nutrir qualquer simpatia por integralistas, neo-nazistas e outras mazelas sócio-políticas do gênero. Mas canto o hino nacional.

* Quando resolvi escrever este texto, procurei na internet o blog e o artigo lido, baseado apenas na memória, pois não fiz qualquer anotação. Em vão. Talvez tenha achado o blog, mas não o artigo e a articulista.